Alguns Pensamentos...

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quarta-feira, novembro 30, 2005

Há quem diga

"Um dos problemas mais complicados da democracia é este: as pessoas que têm de fazer os sacrifícios votam em quem determina os sacrifícios. […] Na sua imperfeição, a democracia permite que seja a maioria a escolher entre o bom e o óptimo. Mas quando a escolha é entre o muito mau e o péssimo, transforma-se numa ditadura que bem pode deixar saudades de uma semana de fascismo."

terça-feira, novembro 29, 2005

Anúncio premiado...

Veja aqui.

segunda-feira, novembro 28, 2005

Evidências...

José Sócrates afirmou que a necessidade do projecto da Ota é uma absoluta evidência. Foi Chaïm Perelman quem defendeu que não se argumenta contra o que é evidente. Sócrates terá, por isso, tentado pôr um ponto final à embaraçante discussão pública do projecto, proclamando "lá do alto" a absoluta evidência da sua necessidade.
Mas a vida também é feita de detalhes, como aquele que terá escapado a Sócrates: é que a evidência não precisa sequer de ser dita. Aliás, dizê-la é já admitir que não será tão evidente como se imagina ou como se quer fazer crer. E Sócrates disse-a. Chamou-lhe até absoluta. Logo: siga o debate...

sexta-feira, novembro 25, 2005

Cartas de Salazar e Caetano

Um conjunto de cartas, algumas com a classificação de «confidencial», escritas por Oliveira Salazar, Marcello Caetano e outras destacadas figuras do Estado Novo vai à praça em Lisboa dias 28 e 29 com base de licitação de 15 mil euros.
Além das cartas, o lote a leilão integra, ainda, documentos, fotografias, livros com dedicatórias, projectos pertencentes a importantes personalidades políticas, do período 1933-1968, como os presidentes do Conselho do regime ditatorial Oliveira Salazar e Marcello Caetano e o ex-presidente da República Américo Tomás, que exerceu o cargo no mesmo período.
Faz parte do acervo também o «fac-simile» do despacho de Oliveira Salazar autorizando a abertura do concurso para a realização da Ponte sobre o rio Tejo em Lisboa, um dossier que contém o projecto do aeroporto para a ilha da Madeira e trabalhos sobre o Porto de Leixões e a Sociedade Electra-Del-Lima (central hidroeléctrica).
Segundo a empresa Leiria e Nascimento, o leilão «Importante Biblioteca Particular e outras proveniências» está divido em duas partes: na primeira predominam temáticas náuticas, marinha, descobrimentos, inquisição, História de Portugal e África de expressão portuguesa.
A segunda parte - a leiloar dia 29 de Novembro - inclui obras dos séculos XVI a XX.
No catálogo da leiloeira o destaque vai para uma colecção completa das edições da Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, com base de licitação de 900 euros.
Entre os lotes destacados encontram-se, ainda, o «Diário» do escritor Miguel Torga, colecção completa com todos os volumes da primeira edição (base de licitação de 1.200 euros) e o livro «Desenhos do país, características e costumes em Portugal e Espanha feitos durante a campanha do exercito britânico em 1808 e 1809», de William Bradford (três mil euros).
O leilão decorre nos dois dias a partir das 21:00 na Rua de Santo António à Estrela, sendo precedido pela exposição dos lotes nos dias 26 e 27 das 15.00 às 20:00.

quinta-feira, novembro 24, 2005

Capas de revista...

quarta-feira, novembro 23, 2005

A esfericidade da Terra

Aristóteles (384–322 a.C.) listava duas observações decisivas: a visão do firmamento ser diferente em diferentes latitudes e a forma circular da sombra da Terra sobre a lua durante os eclipses. Nenhuma destas provas é fácil de realizar, mas ambas estão ao nosso alcance. A primeira obriga a viajar e observar. Será preciso, no mínimo, viajar do norte ao sul do país para se começar a perceber que há estrelas que, num local, se vêem a roçar o horizonte e noutro aparecem um pouco mais acima. Em alternativa, pode-se medir a altura da estrela polar, que no Minho é uns quatro graus superior à do Algarve.
O horizonte não está no mesmo plano nos dois locais. Seguimos a curvatura da Terra ao viajar de um lado para outro e, por isso, muda o céu que vemos.
A segunda prova de Aristóteles obriga a esperar por um eclipse lunar. Nessa altura, vê-se que a sombra que a Terra projecta sobre a lua tem a fronteira sempre convexa, como dizia Aristóteles... A Terra tem de ser redonda...
Estas e outras provas eram consideradas tão decisivas que o sábio romano Plínio - o - Velho (23–79 d.C.) dizia que a forma esférica da Terra é o primeiro facto acerca do qual há um acordo generalizado. Não foi pois Cristóvão Colombo quem mostrou que a Terra é redonda, como por vezes se afirma.
Mas há outras provas ainda mais interessantes, apesar de menos conclusivas. A minha prova favorita apenas necessita de um pôr do sol junto ao mar e de nuvens. Depois de o sol mergulhar no oceano, há nuvens que se mantêm iluminadas pelos raios vermelhos da nossa estrela. Estão mais altas que nós e o sol ainda as alcança; isso acontece em qualquer local. O oceano tem de ter uma curvatura...

terça-feira, novembro 22, 2005

Portugal envelhece

Portugal está a envelhecer a olhos vistos. Em 2004 existiam 1.760.539 de idosos com mais de 64 anos. Em 2050, estima-se que andaremos nos 3.000.000! Não há vislumbre de políticas sociais, de saúde e solidariedade que permitam encarar com optimismo a situação presente e futura.
Ultimamente debitam-se palavras de ocasião sobre a problemática dos idosos em Portugal, mas poucas são as medidas concretas que tenham um impacto real. Se agora estamos preocupados com o facto de um candidato à presidência da república ter 81 anos, daqui a não muito tempo um primeiro - ministro terá 90 anos, um ministro das finanças 95 anos e um ministro da juventude terá 100 anos.... Parece que, no fundo, ser português é ter uma nacionalidade de risco e de elevado desgaste rápido!

segunda-feira, novembro 21, 2005

Sinais subjectivos mas evidentes

De acordo com Jared Diamond, autor do livro "Collapse: How Societies Choose to Fail or Succeed", existem duas causas principais (que mais não são do que tautologias) que levam ao colapso das sociedades:
1. The Isolation of the Elite: "The people in power, who are running the country, loose touch with the mood, feelings and issues that the rest of the population faces."
2. Failure to Adapt the Core Values: "Societies are founded with a set of principals or values. If these values don't change or aren't updated to be relevant to the age, the society can fall."

sexta-feira, novembro 18, 2005

Estamos a perder talentos?

Num relatório apresentado na semana passada, da responsabilidade do Banco Mundial, Portugal bate o recorde europeu da chamada "fuga de cérebros". É preocupante quando se verifica que um em cada cinco portugueses com qualificações superiores vive fora de Portugal.
Terá o corporativismo nacional algo a ver com esta triste conclusão? Existirá uma realidade enraizada de consolidar determinadas árvores genealógicas no sentido de preservar os frutos que daí brotam?
Por vezes, por falta de um apelido sonante, as qualidades humanas e intelectuais de um indivíduo são ignoradas e é de todo o interesse que o mesmo procure soluções para a sua vida onde lhe dão boas oportunidades.
Será que é esta uma das causas da crise reinante, de “barões” e “tubarões” influentes, que nos conduz para uma estagnação acrescida? Ou então, colocando de lado a teoria da conspiração, sendo uma qualificação superior um sinal de trabalho, sacrifício e de alguma inteligência, há muita gente que não acredita que pode fazer a diferença em Portugal, comprometendo, em parte, o futuro do país! Num caso ou noutro, venha o diabo e escolha...

quinta-feira, novembro 17, 2005

Dia Nacional da Tolerância


Em Portugal assinalou-se ontem o Dia Nacional da Tolerância. Vários eventos ocorreram no âmbito do Alto Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas (ACIME) na tentativa de sensibilizar a sociedade portuguesa.

quarta-feira, novembro 16, 2005

Em qualquer parte do mundo, as sondagens valem o que valem...

terça-feira, novembro 15, 2005

Um balanço de um cidadão...

Após uma semana de debates, exposições, espectáculos e missões de rua, o que permaneceu deste Congresso Internacional para a Nova Evangelização?
As imagens públicas que certamente ficarão na retina da cidade serão a da procissão da luz com a imagem de Fátima e a das relíquias de Teresa de Lisieux, veneradas, na Sé. Será que quando se fala em nova evangelização, devem promover-se, deste modo, velhas expressões de religiosidade?

É evidente que a religiosidade popular tem direito de cidadania, mas a Igreja fala em reevangelizar precisamente porque muitas pessoas se aproximam do catolicismo não tanto pelas verdades centrais da fé mas pela devoção pessoal mariana ou aos santos. Sem rejeitar a expressão popular, há um desafio inerente à criatividade das formas e e à reflexão sobre os novos conteúdos a propor a uma nova sociedade. Muitos reduzem as consequências da fé a regras de moral individual, não percebendo que ela deve começar talvez por questionar um modelo de sociedade que, de certa forma, contradiz em tantas coisas o evangelho proclamado.

Este congresso possibilitou um momento importante para a sociedade, realizando-se uma mesa-redonda com os cardeais e o arcebispo de Paris que foi um momento de debate, de polémica e até de algum humor. Contudo, o congresso deveria ter dado mais atenção à dimensão ecuménica e inter-religiosa, através de um acontecimento específico que possibilitasse mesmo o diálogo com os não-crentes.

O balanço deste congresso é, na verdade, positivo nem que seja pelo simples facto de não ter passado indiferente. Todas estas experiências que tiveram lugar em Lisboa, não só este congresso mas também o encontro Taizé, no final de 2004, a Bíblia Manuscrita há um ano, fizeram, provavelmente, mais pela nova evangelização que a Igreja quer, do que muitos debates estritos pelo simples facto de estas experiências estarem relacionadas com uma ideia cara ao patriarca de Lisboa, chave da aproximação entre a Igreja e a sociedade: é a cultura que está em causa... ideia curiosa...

segunda-feira, novembro 14, 2005

Parabéns Angola!



Angola viu a independência ser aclamada há 30 anos, apesar da divisão em duas cidades angolanas distintas que assumiram duas Repúblicas: a sul, no Huambo, a coligação UNITA-FNLA proclamava a República Socialista, Democrática Africana de Angola e, a norte, o MPLA proclamava a República Popular de Angola.
Com esta divisão reacendiam-se ódios antigos e o povo angolano sofreu uma dura e penosa guerra-civil... Trinta anos depois muita coisa aconteceu; trinta anos depois chegou a PAZ que já permanece há três anos. Mas esta paz ainda procura enraizar-se no seio de Angola, tendo ainda um longo caminho a percorrer. Apesar dos progressos verificados ao longo da época, a paz militar não pode ser confundida com a paz social. Se a paz militar não for bem gerida e não der lugar a um pacto social, Angola pode resvalar de novo para um grande conflito.

sexta-feira, novembro 11, 2005

A violência em França

É evidente que a prioridade é acabar rapidamente com a onda de violência e restabelecer a ordem e a segurança pública nas cidades francesas.
Porém, seria ilusório pensar que depois tudo pode ficar na mesma, com a prisão e a condenação de algumas dezenas de responsáveis pelas destruições ocorridas. A situação de crise que os gravíssimos desacatos em Paris e noutras cidades francesas vieram evidenciar, alastrando-se, entretanto, a outras cidades europeias, carece de respostas de fundo que proporcionem uma esperança de vida decente e digna para todos os que habitam os subúrbios degradados por essa Europa fora. É necessário encarar o problema e solucioná-lo quanto antes...

quinta-feira, novembro 10, 2005

Natureza e tecnologia: a coabitação

quarta-feira, novembro 09, 2005

É possível?

É possível (...) que não se tenha visto, conhecido e dito nada de real e importante? É possível que se tenha tido milénios para olhar, reflectir e anotar e que se tenha deixado passar os milénios como uma pausa escolar, durante a qual se come fatias de pão com manteiga e uma maçã?
É possível que, apesar das investigações e dos progressos, apesar da cultura, da religião e da filosofia, se tenha ficado na superfície da vida? É possível que até se tenha coberto essa superfície - que, apesar de tudo, seria qualquer coisa - com um pano incrivelmente aborrecido, de tal modo que se assemelhe aos móveis da sala durante as férias de Verão?
É possível que toda a História Universal tenha sido mal-entendida? É possível que o passado seja falso, precisamente porque sempre se falou das suas multidões, como se dissertasse sobre uma aglomeração de pessoas, em vez de falar de uma única, em torno da qual elas estavam?
É possível que haja gente que diga «Deus» e julgue que se trate de algo comum a todos? - E veja-se apenas dois rapazinhos de escola: um compra um canivete, e o seu vizinho compra outro tal qual no mesmo dia. E uma semana depois mostram um ao outro os dois canivetes, e acontece que eles só muito de longe se parecem - tão diferentemente evoluíram em mãos diferentes. (Ora, diz a mãe de um deles a esse respeito: vocês têm sempre por força de desgastar logo tudo!). Ah, pois: é possível acreditar que se possa ter um Deus sem se recorrer a Ele?
Sim, é possível...
Porém, se tudo isto é possível, se tem mesmo só uma aparência de possibilidade - então, por tudo o que há no mundo, é preciso que aconteça alguma coisa. O primeiro indivíduo, o que teve estes pensamentos inquietantes, deve começar a fazer alguma coisa do que se perdeu; mesmo que seja um qualquer, certamente o menos indicado: mais nenhum há que o possa fazer.

Rainer Maria Rilke, in As Anotações de Malte Lauridis Brigge

terça-feira, novembro 08, 2005

O legado da cimeira de Copenhaga

O debate sobre a adesão da Turquia à União Europeia (UE) está na ordem do dia. Os argumentos pesam para um lado e para o outro pois entre a aproximação que este país fez ao nosso continente nas últimas décadas, os compromissos, as promessas e a disparidade que revela ainda em relação a princípios fundamentais adoptados pela UE, defende-se a ideia de adiar um pouco a sua adesão para que se dêem as evoluções necessárias em ambos os lados.
Já dizia Giscard d´Estaing que "a capital da Turquia não é na Europa", declaração nada inocente uma vez que servia para desminar a questão turca antes da cimeira de Copenhaga. O que é certo é que esta declaração suscitou algumas das verdadeiras questões que a candidatura da Turquia coloca à UE e que muitos chefes de Estado tentam constantemente esclarecer publicamente: Quais são os fundamentos desta Europa que se está a construir? Até onde pode ela integrar países vizinhos? Tem limites geográficos?
O legado da cimeira europeia de Copenhaga veio aumentar a urgência de um debate que nunca teve verdadeiramente lugar e que se encontra, agora, armadilhado pelas promessas e compromissos tomados noutros tempos. No início da construção europeia não se punha a questão da identidade europeia, nem para os seis do início, nem sequer para os quinze, situados todos no coração da Europa. Só no último alargamento é que ela emergiu verdadeiramente, coexistindo com a candidatura turca.
As condições que rodeiam actualmente esta candidatura já não têm nada a ver com aquelas dos anos 60... após quarenta anos de construção, a UE tornou-se um conjunto de países que partilham valores reconhecidos na Carta dos Direitos Fundamentais redigida no ano 2000. Será que actualmente tem de se esquecer tudo o que foi dito e feito, de há 50 anos para cá?

segunda-feira, novembro 07, 2005

O desafio das ciências cognitivas

Alguns autores consideram que as grandes revoluções da era moderna que mudaram a concepção que temos de nós mesmos foram três, associadas a três grandes nomes da ciência: Galileu, Darwin e Freud.
As três revoluções tiveram consequências imediatas sobre a metodologia científica em diversas áreas, como, por exemplo, na astronomia, na física, na sociologia, na psicologia, na biologia e mesmo na história. Mas elas exerceram uma influência, que considero importante, sobre a concepção que temos de nós mesmos, das nossas relações sociais, e da nossa relação com o mundo que nos rodeia.
É muito possível que estejamos, na época em que vivemos, no início de uma nova revolução, semelhante às que são associadas àqueles três cientistas, uma revolução provocada pelos rápidos desenvolvimentos das ciências cognitivas que se têm verificado desde o século passado e cujo fim e implicações não se vislumbram ainda por completo, permanecendo em aberto um vasto leque de hipóteses quanto a desenvolvimentos futuros. Trata-se em alguns casos, de hipóteses pertubadoras, mas ao mesmo tempo muito estimulantes, já que poderão conduzir a um melhor conhecimento de nós mesmos, sendo talvez hipóteses que nos convidam a prosseguir um caminho sem regresso.
O impacto desta nova revolução operada pelas ciências cognitivas é talvez bastante mais radical que o das revoluções anteriores, já que pretende, em certos aspectos, englobá-las e, ao mesmo tempo, superá-las numa espécie de síntese nova e aberta a contínuas e inesperadas novidades. Infere, sobretudo, nos aspectos que se referem à concepção tradicional do ser humano que continua a sofrer transformações.

sexta-feira, novembro 04, 2005

O país que temos...

quinta-feira, novembro 03, 2005

O sentido da vida

O sentido da vida não será “o problema central da filosofia” mas talvez faça sentido considerar que sempre permaneceu (e permanecerá) como pano de fundo de tantos e tantos outros problemas que suscitam a reflexão filosófica. É o caso do problema do cepticismo, do problema do bem, do problema da existência de Deus e do problema dos universais, como bem lembra Desidério Murcho na sua coluna “Vale a pena traduzir” no Público do passado sábado. Dir-se-á até que um posicionamento teoricamente mais sustentado sobre esta eterna questão do sentido da vida, muito dependerá do aprofundamento de cada um dos referidos problemas filosóficos, tão intimamente ligados se mostram à definição do nosso próprio modo de ser e, em última análise, de viver.
É precisamente do sentido da vida que nos fala John Cottingham no seu livro On the Meaning of Life, do qual, em boa hora, Desidério Murcho nos faz uma excelente apresentação crítica. Começando por notar que Cottingham “entende que uma vida religiosa é, pela sua prática, mais satisfatória do que uma vida não religiosa” e que “é a promessa de imortalidade que para o autor faz a diferença en­tre o sentido e a falta dele”, Desidério Murcho avança com uma dupla objecção que vai buscar aos consagrados filósofos Thomas Nagel e Bernard Williams. Segundo o primeiro, “se uma vida não tem sentido não é por ser eterna que o ganha, e se o tem não é por ser finita que o perde” enquanto que para o segundo, “uma vida com sentido poderá até perdê-lo caso se prolongue indefinidamente”. Convenhamos que, em termos estritamente racionais, não se vê como o argumento da promessa da imortalidade pode contribuir para a clarificação do problema do sentido da vida.
Mas é já na última página do seu livro que John Cottingham notoriamente claudica em termos argumentativos quando, a avaliar pelo excerto que nos traz Desidério Murcho, acaba por abandonar o primado da compreensão e desliza, digamos assim, para uma filosofia de auto-ajuda. É o que faz, por exemplo, ao defender que “por causa da fragilidade da condição humana, precisamos de mais do que da determinação racional para nos orientarmos para o bem. Precisamos de ser sustentados por uma fé na resistência do bem; precisamos de viver à luz da es­perança”. Precisamos, precisamos, precisamos – repete Cottingham, sem ao que parece, nem por uma vez explicar a razão de ser dessa necessidade. Mas não é, no mínimo, parodoxal que um filósofo para quem “só Deus poderá dar sentido à vida” se furte a uma explicação minimamente racional sobre como se chega a tão segura convicção? Mais: como chegar à ideia de que “só Deus poderá dar sentido à vida” sem primeiramente ter uma noção do que é o próprio “sentido da vida”?
Não está em causa, naturalmente, se as conclusões de Cottingham são verdadeiras ou falsas. O que está em causa é a gritante falta de legitimação racional para o que afirma. Por outras palavras, as suas conclusões podem até ser verdadeiras mas partem de premissas falsas ou perfeitamente questionáveis, quando não, ocultas. Nessa medida, nenhuma retórica pode aspirar a uma adesão racional do respectivo auditório. Daí que Desidério Murcho feche a sua apresentação deste modo muito certeiro: "Os filósofos ateus não ficarão persuadidos por este argumento [de Cottingham], objectando que se a religião é apenas uma espécie de cenoura para nos manter no caminho do bem, voltamos ao inaceitável Deus primitivo do castigo e da recompensa – estamos ao mesmo tempo a prostituir o bem, que deve ser praticado por si e não pela recompensa numa vida do além.”
Mas como é óbvio, nenhuma objecção ou controvérsia dispensa a leitura desta obra, antes pelo contrário.

quarta-feira, novembro 02, 2005

Cooperação internacional vs. "Nino" Vieira

No mês de Setembro escrevi sobre esta região de África que se encontrava sem rumo e sem estabilidade deixando transparecer nesse post a ideia da necessidade de uma cooperação estreita para remediar as insuficiências das regiões deste continente.
Hoje escrevo sobre a mesma região africana pois, há pouco tempo, essa cooperação foi oferecida à Guiné - Bissau e ignorada pela mesma. O Fundo Monetário Internacional (FMI) esteve presente em Bissau para negociar um pacote de apoio à Guiné-Bissau - reconhecido por programa de ajuda financeira pós-conflito - decidindo abandonar o país por não ter ninguém credível com quem negociar.
Se não há interlocutores, consequência da atitude política de “Nino” Vieira, o FMI considera que é impotente em Bissau, voltando rapidamente para Washington.
Com a existência destes obstáculos, o funcionalismo público guineense – e por extensão o resto da população – sofrerá mais uma difícil temporada de ordenados em atraso. Segundo o director do FMI para a África Ocidental, o economista holandês Harry Snoek, o FMI só voltará ao país quando houver um Governo credível em Bissau.
A mesa-redonda de doadores, que estava prevista para os dias 08 e 09 de Dezembro, em Genève (Suíça) já não se realizará, estando tudo dependente da formação do novo governo e da forma como ele irá colaborar com as Nações Unidas.
Tem a palavra o senhor presidente João Bernardo “Nino” Vieira...

terça-feira, novembro 01, 2005

O Terramoto de 1755



Faz hoje 250 anos que ocorreu o terramoto de 1755 que destruiu não só Lisboa mas também grande parte do país, tendo-se sentido até ao Sul de França e até ao Norte de África.
Com uma magnitude de quase nove valores na escala de Richter, um primeiro sismo sentiu-se aproximadamente pelas 09h40, altura em que cidade abanou, aumentando a sua intensidade cerca das 10h00 e, mais tarde, por volta do meio-dia. O maremoto que se seguiu aos abalos e os milhares de fogos deflagrados completaram o quadro da tragédia que provocou cerca de 60 mil vítimas.
O Terramoto de 1755 constituiu um fenómeno ímpar, mercê, sobretudo, da projecção internacional que lhe foi dada.