Alguns Pensamentos...

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quinta-feira, novembro 30, 2006

Uma muralha da China?

Primeiro, e como não existiam registos de óbitos de chineses no nosso país, correram as mais diversas suspeitas sobre o que esta comunidade de imigrantes em Portugal -progressivamente mais significativa - fazia aos seus mortos. Note-se, desde já, que em 1991 existiam 356 chineses no país. Entre 2001 e 2004, as autorizações de permanência concedidas as chineses em Portugal foram 3913 e em 2004, as autorizações de residência somaram 5605. As estimativas apontam para a presença de, pelo menso, 16 mil chineses em Portugal, depois correram atoardas sobre a inexistência de caixotes do lixo à porta dos estabelecimentos comerciais chineses, implicando que uma enorme e bizarra reciclagem seria conduzida nos seus restaurantes e afins. Mais tarde, deu-se a inspecção alimentar a restaurantes chineses, cuja cobertura jornalística foi de tal ordem que deu origem a uma investigação pela Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Agora corre o rumor que a comunidade chinesa sequestra pessoas nas suas lojas, para lhes retirar os órgãos, história que o DN procurou aclarar.
Essencialmente, trata-se de uma representação perigosa de uma comunidade étnica cuja presença em Portugal disparou rapidamente. Uma espécie de antropologia do barbarismo ou um orientalismo – na sua acepção mais negativa – frutos dessa presença mais numerosa, da falta de contacto com a comunidade de acolhimento, de importantes lacunas académicas sobre este grupo étnico e mesmo resultado de uma estratégia por parte da comunidade chinesa que parece passar mais pela inivisibilização do que pelos marcadores identitários (praticamente reduzidos aos espaços comerciais). Seja como for, a representação dos chineses residentes em Portugal enquanto sequestradores, homicidas e ladrões de órgãos, enquanto canibais ou imundos, que tem tido efeitos altamente nefastos sobre os seus negócios – para já – não podia ilustrar melhor a ideia medieval do selvagem diabólico, que tantas vezes serviu de base para a destruição e subjugação do outro. “Indígenas aberrantes” cuja alteridade é insuportável para muitos.
No momento actual, podemos dizer que a relação Oriente-Ocidente passa por um importante momento de transformação, que se deve à expansão do capitalismo financeiro, à globalização da informação, à emergência de novas potências a oriente. E a relação dos portugueses com os chineses vem de longe e transporta, efectivamente distorções identitárias. Se por um lado, o Oriente – basta pensar em Macau ou mesmo Timor – continua a ser uma memória dourada para o país, por outro lado, as imagens construídas foram e são, em muitos momentos, muito negativas e altamente visíveis, por exemplo em alguma literatura. Uma alternância entre a sinofilia e a sinofobia. Neste momento, e perante a insistência destes rumores, parece-me importante que os responsáveis, nomeadamente o Alto-Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas, preste atenção ao que se está a passar, procurando, desde já, estabelecer algumas linhas pedagógicas e de prevenção.
De um modo geral, o que estes rumores sobre os chineses que vivem e trabalham em Portugal demonstram que há um arriscado desinvestimento em medidas – quer políticas, quer culturais, quer comunicacionais ou comunitárias, que promovam a integração das diferentes etnias.

quinta-feira, novembro 23, 2006

«Kerem» voar?

O Millenium BCP apresenta um anúncio com galinhas, com um conhecido nome do humor português que pergunta se keres voar, com crédito bancário, presume-se. O anúncio está por toda a parte sem aspas. Muitos acham graça. Os mesmos que depois se indignam com os erros de português? É de crer que sim. Umas aspas impedem de voar?

sexta-feira, novembro 17, 2006

Uma pergunta...

Se chovesse dinheiro será que as pessoas usariam o chapéu de chuva para se abrigarem dele?

segunda-feira, novembro 06, 2006

O sexo dos anjos

Será possível comunicar os grandes desafios que a humanidade tem de superar sem cair na depressão? Não haverá outro modo de encarar temas como o ambiente, a demografia, as diversas pandemias, sem cair numa espécie de profecia apocalíptica? Provavelmente, não.
Mas a forma trágica e meio sensacionalista de colocar os problemas a que vimos assistindo torna-se, em si mesma, um problema, uma vez que descredibiliza as próprias análises.
No entanto, isto não significa que as grandes ameaças não sejam para levar a sério. O relatório do britânico Nicholas Stern, que afirma que o impacto das alterações climáticas pode ser superior ao das guerras mundiais ou ao da Grande Depressão, aí está para confirmar o cenário verdadeiramente preocupante que Al Gore tem divulgado no seu filme "Uma verdade inconveniente".
No meio de todo o ruído, entre as visões apocalípticas e aqueles que dizem que tudo não passa de propaganda, é necessário que líderes credíveis tenham a coragem de apostar numa agenda que, podendo não ser popular, é determinante para o nosso futuro.
Perante os enormes desafios civilizacionais, alguns debates tornam-se despreocupados, insípidos e insuficientes.
Não é por acaso que muitos daqueles que se dedicam e preocupam com estes assuntos evocam o cerco de Bizâncio – quando os notáveis da cidade, já com o inimigo a entrar nas suas portas, ainda discutiam o sexo dos anjos... é tempo de compreender que só vamos a tempo se todos compreendermos que ainda vamos a tempo.