Alguns Pensamentos...

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sábado, dezembro 31, 2005

Receita de um feliz Ano Novo

Para um belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris ou da cor da paz,
um Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
não é preciso beber champanhe ou qualquer outra bebida,
não é preciso enviar nem receber mensagens
Não é preciso
fazer uma lista de boas intenções para arquivá-las na gaveta.
Não é preciso chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem "parvamente" acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de si que o Ano Novo espera desde sempre...

quinta-feira, dezembro 29, 2005

Prenda no sapatinho de São Bento?

Nesta época de festas, a paz precisa-se. Belém, a terra do Deus menino, encerra o mito cristão estando bem longe da mesma Belém dos dias de hoje, distante da cadeira do palácio alfacinha que lhe usurpou o nome e que agora é cobiçada por muitos embora, verdadeiramente, merecida por poucos e a poucas semanas de conhecer novo signatário para os textos da República.
É certo que a campanha para as presidenciais nem sequer começou oficialmente, mas face aos dados que todos expuseram surgem algumas luzes. Em primeiro lugar, o número elevado de candidatos presidenciais, a ultrapassar a dezena, possivelmente o lado surreal da democracia moderna em funcionamento. Depois, caso o antigo primeiro-ministro social-democrata seja o eleito para ocupar o cargo em Belém – e em especial se o conseguir logo na primeira volta –, as relações com o governo ficarão no centro das atenções. E, caso se confirme esta conjuntura, mais do que ao futuro presidente da República, as questões colocam-se a José Sócrates. Do leque de candidatos, há quem diga que Cavaco Silva possui o melhor perfil para que Sócrates aplique o seu programa de governo e as medidas que o país necessita, em especial as mais duras – as que não vêm nos programas eleitorais de ninguém.
No entanto, mesmo Sócrates – note-se a forma subtil como tem manifestado apoio ao seu candidato – sabe que precisa de ter alguma consistência perante o eleitorado.
Resta saber se, caso Soares tenha uma derrota pesada e em toda a linha – e seria a segunda derrota consecutiva da esquerda em escrutínios -, Sócrates não optará, por exemplo, por forçar eleições e ter para si a legitimidade para governar perante um cenário de hipotético confronto com Belém, fazendo o que Santana Lopes devia ter efectuado quando do início dos problemas do seu executivo com Sampaio. Ou então pura e simplesmente passa a governar ainda mais à direita. Hipoteticamente, a «cooperação estratégica» de Cavaco pode ser que lhe proporcione esse espaço e mesmo a legitimidade para aplicar as suas políticas sem forçar eleições.
Nestes dias da festa do Deus menino, quiçá tenha sido esta a prenda no sapatinho de uma certa lareira lá para os lados de São Bento.

quarta-feira, dezembro 28, 2005

Um café, por favor




"A Europa é feita de cafetarias, de cafés. Estes vão da cafetaria preferida de Pessoa, em Lisboa, aos cafés de Odessa frequentados pelos gangsters de Isaac Babel. Vão dos cafés de Copenhaga, onde Kierkegaard passava nos seus passeios concentrados, aos balcões de Palermo. Não há cafés antigos ou definidores em Moscovo, que é já um subúrbio da Ásia. Poucos em Inglaterra, após um breve período em que estiveram na moda, no século XVIII. Nenhuns na América do Norte, para além do posto avançado galicano de Nova Orleães.
Desenhe-se o mapa das cafetarias e obter-se-á um dos marcadores essenciais da “ideia de Europa”."
Steiner, G. in A Ideia de Europa

terça-feira, dezembro 27, 2005

A UE quer minorar tsunamis silenciosos de África

No dia em que se recorda o tsunami - com uma certa amargura pela impotência com que o Homem se viu perante a Natureza - que varreu o sudeste asiático, há um ano, eis que a UE, através do comissário europeu para o Desenvolvimento e Ajuda Humanitária, Louis Michel, vem afirmar que irá participar com cerca de 165,7 milhões de euros para minorar os tsunamis silenciosos de África, como a seca, inundações, pragas de insectos, ou os ainda existentes conflitos armados.
Os beneficiários, que irão receber estes apoios nos próximos dez meses serão o Burundi, Camarões, Chade, Congo Democrático, Costa do Marfim, Libéria, Madagáscar, Sudão, Tanzânia e Uganda... Uma pequena prenda da União Europeia.

segunda-feira, dezembro 26, 2005

Relembremos para que não se repita...

domingo, dezembro 25, 2005

É hoje...

sábado, dezembro 24, 2005

Uma boa oferta de natal

sexta-feira, dezembro 23, 2005

O Portugal de que tanto se fala



Avivo no teu rosto o rosto que me deste,
E torno mais real o rosto que te dou.
Mostro aos olhos que não te disfigura
Quem te desfigurou.
Criatura da tua criatura,
Serás sempre o que sou.
E eu sou a liberdade dum perfil
Desenhado no mar.
Ondulo e permaneço.
Cavo, remo, imagino,
E descubro na bruma o meu destino
Que de antemão conheço.
Teimoso aventureiro da ilusão,
Surdo às razões do tempo e da fortuna,
Achar sem nunca achar o que procuro,
Exilado
Na gávea do futuro,
Mais alta ainda do que no passado.

quinta-feira, dezembro 22, 2005

Avanços científicos: Deus mora no cérebro?

quarta-feira, dezembro 21, 2005

"Depois": Um advérbio bem português

terça-feira, dezembro 20, 2005

A blogosfera é cada vez mais importante

Ainda não há muito tempo, um leitor que quisesse protestar num jornal, tinha que telefonar ou escrever para o director e ficar na expectativa de ver ou não a sua queixa publicada. Em qualquer dos casos, a última palavra pertencia sempre ao jornal. Se o reparo do leitor lhe fosse inconveniente, por exemplo, em termos de imagem, o protesto corria o risco de não chegar a ver a luz do dia.
Com a blogosfera tudo mudou: o leitor tem acesso imediato à edição e pode, por isso, livremente, tornar público o seu descontentamento, criticar ou apresentar sugestões, relativamente às práticas jornalísticas deste ou daquele órgão de informação. Desapareceu, portanto, a possibilidade do jornal silenciar a opinião do leitor. É certo que, por agora, ainda lhe resta a hipótese de o ignorar, de o deixar a falar sozinho, de se fingir de morto, mas estou convencido que, à medida que a comunidade blogosférica (ou qualquer futura realidade mais ou menos semelhante) se for consolidando, irá também aumentando a velocidade e a dimensão da partilha de opiniões e reacções dos respectivos leitores.

segunda-feira, dezembro 19, 2005

A verdadeira religião

Nunca me esquecerei do dia em que, dizendo-lhe: «Mas, senhor padre Manuel, a verdade, a verdade, acima de tudo», ele, a tremer, sussurrou-me ao ouvido – e isso apesar de estarmos sozinhos no meio do campo: - «A verdade? A verdade, Lázaro, é porventura uma coisa terrível, uma coisa intolerável, uma coisa mortal; as pessoas simples não conseguiriam viver com ela.»
«E porque é que ma deixa vislumbrar agora aqui, como confissão?», perguntei-lhe.
E ele respondeu: «Porque senão atormentar-me-ia tanto, tanto, que eu acabaria por gritá-lo no meio da praça, e isso nunca, nunca, nunca. Eu estou cá para fazer viver as almas dos meus paroquianos, para os fazer felizes, para fazer com que se sonhem imortais e não para os matar.
O que aqui faz falta é que eles vivam sãmente, que vivam em unanimidade de sentido, e com a verdade, com a minha verdade não viveriam. Que vivam. E é isto que a Igreja faz, fazer com que vivam.
Religião verdadeira? Todas as religiões são verdadeiras enquanto fazem viver espiritualmente os povos que as professam, enquanto os consolam de terem tido de nascer para morrer, e para cada povo a religião mais verdadeira é a sua, a que ele fez. E a minha? A minha é consolar-me em consolar os outros, embora o consolo que eu lhes dê não seja o meu.»
Nunca esquecerei estas suas palavras....

Miguel de Unamuno, in São Manuel Bom Mártir

sexta-feira, dezembro 16, 2005

O Natal e a Casa Pia

quinta-feira, dezembro 15, 2005

Dia de Eleições

quarta-feira, dezembro 14, 2005

É triste ser estagiário...



Nos tempos que correm não há nada melhor do que trabalhar por conta própria...

terça-feira, dezembro 13, 2005

Debate fervoroso: procura-se



Os debates que temos vindo a assistir entre os vários candidatos à presidência da República têm sido mornos, não contribuindo para uma clara percepção daquilo que os separa, das várias visões estratégicas que têm para Portugal. É necessária uma troca de ideias, um verdadeiro debate...

segunda-feira, dezembro 12, 2005

Igualdade e possibilidade

Tenho dúvidas se qualquer outro contribuinte se poderá gabar de ver o problema dos seus impostos num país estrangeiro ser resolvido pelo Primeiro Ministro português.
Acreditando no Expresso deste sábado, o nobel José Saramago pediu a intervenção de José Sócrates que falou com José Luiz Zapatero para o fisco espanhol deixar Saramago em paz... assim aconteceu.

sexta-feira, dezembro 09, 2005

O Concílio Vaticano II: a mudança

O Concílio Vaticano II marcou uma mudança na Igreja Católica que alguns consideram não terminada e outros dizem exagerada na sua aplicação. Na verdade, o Concílio abriu janelas mas também destapou crises latentes no catolicismo que conduz a que muitos peçam um Concílio Vaticano III na medida em que o mundo mudou.
O Papa Bento XVI assinalou ontem, com uma missa na Basílica de São Pedro, os 40 anos do encerramento do Concílio Vaticano II. Este acontecimento, que decorreu entre 1962 e 1965, reuniu os cerca de 2500 bispos de todo o mundo, agitou a vida da Igreja, relançou dinamismos de mudança que se registavam desde o início do século XX, mudou a liturgia católica, abriu a instituição a um diálogo mais profundo com outras confissões religiosas e mesmo com as sociedades. Contudo, também destacou várias crises que conduziram a que se considerasse o Concílio Vaticano II como um passo de uma revolução inacabada, como uma causa dos problemas do pós-concílio e de avanços além do que os textos propunham. Entre esses olhares, o Concílio Vaticano II ainda é objecto de polémica.
O Papa Pio XII (1939-1958) já pensara na possibilidade de convocar o Concílio Vaticano II , mas a II Guerra Mundial e a oposição da Cúria Romana travaram-lhe a ideia. Em 28 de Outubro de 1958, o conclave elegeu Angelo Roncalli, que adoptou o nome de João XXIII. Três meses depois, a 25 de Janeiro, o Papa de transição, como foi encarado, convoca um concílio para aggiornare a Igreja em relação a um mundo em mudança com uma assembleia que abre a 11 de Outubro de 1962. Para discussão havia 72 esboços propostos pela Cúria e comissões preparatórias. Os bispos participantes rejeitam-nos em bloco, refizeram-se os esquemas, reduzindo os documentos para um total de 16. A primeira sessão acaba em 8 de Dezembro sem que nenhum texto seja aprovado.
João XXIII morre em Junho seguinte, sucedendo-lhe o cardeal Giovanni Montini, de Milão, que escolhe o nome de Paulo VI. Uma das suas primeiras decisões é confirmar a continuação do Concílio para Setembro seguinte. Nesse ano e nos dois seguintes, entre Setembro e Dezembro, os bispos voltam a reunir-se em Roma, para discutir e aprovar os textos, depois de muitos e, por vezes, acalorados debates.
A assembleia, quando termina, deixa aprovadas quatro constituições, nove decretos e três declarações, títulos que dizem da extensão e importância do tema. Certo é que as declarações sobre a liberdade religiosa e sobre as religiões não-cristãs acabam por se tornar dois dos textos mais significativos. A par das constituições - sobre a liturgia, a definição da Igreja, a Bíblia e a revelação, sobre o diálogo da Igreja com o mundo - e do decreto sobre os leigos. Todos estes documentos reflectem a diversidade dos múltiplos teólogos, redactores e decisores que para eles contribuiram, sendo textos imperfeitos, soluções de compromisso que não devem por isso ser lidos como tratados de teologia, mas como resultado de consensos, no fundo, de perspectivas.
Consequências directas da aplicação dos textos ou do dinamismo criado, o concílio alterou profundamente a imagem e a experiência católica: pormenores formais como, por exemplo, o fim da missa em latim ou da pompa ligada ao Papa, que era transportado numa cadeira até à abertura renovada à participação dos leigos na vida da Igreja, culminando o trabalho de décadas da Acção Católica, uma perspectiva da Igreja que acentuou a vertente comunitária ou de "povo de Deus", o reconhecimento da autonomia das sociedades e da liberdade religiosa ou mesmo a abertura ao diálogo ecuménico e inter-religioso. Porém, várias destas questões transportaram tensões na sua aplicação que se prolongam até à nossa contemporaneidade e, por essas razões, são cada vez mais as vozes que pedem um novo concílio. É certo que o mundo mudou, colocando-se hoje na vanguarda novas questões éticas que acompanham as sociedades secularizadas. Na Igreja, o centralismo romano é ainda fonte de polémica, no ocidente não há uma renovação do clero, o estatuto dos padres está em causa, o papel das mulheres é objecto de debate crítico, a moral individual criou um fosso entre a doutrina oficial e a prática de muitos católicos.
Quarenta anos depois, um novo Papa foi eleito, com a mesma idade de João XXIII (78 anos). Se já ninguém considera Bento XVI como um Papa de transição, a expectativa em relação ao que Ratzinger pode fazer ainda não se esclareceu. A primeira encíclica do novo Papa, que deverá ser publicada em breve, pode ajudar a tirar algumas dúvidas.

quinta-feira, dezembro 08, 2005

Escravatura contemporânea - uma perspectiva americana

Mohler procura levantar aqui o problema crescente da escravatura na actualidade.

quarta-feira, dezembro 07, 2005

Sondagens e debates

Os inquéritos de opinião não são uma verdade absoluta, mas já têm em Portugal o profissionalismo e a credibilidade suficientes para serem encarados como instrumentos inequívocos de avaliação do estado de espírito da opinião pública. E, apesar de algumas divergências nas conclusões, a tendência maioritária diz-nos que muito depende das decisões de um grupo relativamente restrito de pessoas, que aguarda ainda alguns dados informativos para a formação de uma opção definitiva na eleição de 22 de Janeiro.
Nesta conjuntura, os debates televisivos que agora se iniciam podem ter alguma importância, uma vez que as margens de dúvida estarão na «casa» das dezenas de milhar de votos. E as respostas dos indecisos ganham uma importância acrescida, uma vez que é arriscado antecipar,a esta distância, o desfecho de uma eventual segunda volta. Conseguiria, nessas circunstâncias, manter Cavaco a dinâmica de vitória que por agora é evidente na sua candidatura? Seria a esquerda capaz de se mobilizar, com o entusiasmo indispensável, à volta de quem enfrentar Cavaco? E fá-lo-ia, com idêntica eficácia, independentemente de o escolhido ser Mário Soares ou Manuel Alegre?
Ainda é cedo para considerar as presidenciais como um caso arrumado e estou convicto de que os debates televisivos poderão ter alguma influência em fazer os pratos da balança inclinarem-se a favor dos candidatos que melhores prestações consigam perante as câmaras. A televisão não vai, nesta fase, ditar um vencedor, mas poderá decidir as pequenas e mesmo as grandes dúvidas fundamentais para o desfecho final.

terça-feira, dezembro 06, 2005

Amigável cavaqueira

Não resisto em colocar uma frase, presente no Público, de Vasco Pulido Valente, a respeito do pseudo-debate entre Manuel Alegre e Aníbal Cavaco Silva:

"Não houve debate. Entrevistas paralelas, com imenso respeitinho, e olhares delicodoces de lado, não merecem o nome de debate...

segunda-feira, dezembro 05, 2005

Voos secretos

A prisão de Augusto Pinochet no Chile, apesar da ironia da acusação de «fuga ao fisco», remete para a memória histórica da segunda metade do século XX, e tem uma carga simbólica que de alguma forma atinge também os serviços secretos norte-americanos, numa altura em que algumas actividades da CIA são tema recorrente na primeira linha da actualidade.
Confesso que não entendo a surpresa que alguns agora manifestam a propósito de «voos secretos», «raptos de suspeitos», «prisões escondidas» e mesmo acusações de suspeita de utilização de técnicas de interrogatório de prisioneiros que poderão violar a convenção de Genebra.
Desde os tempos da guerra fria, quando os «dois lados» aperfeiçoaram os serviços secretos para ganhar vantagem nos confrontos de bastidores ou nos cenários em que se combatiam por interpostos protagonistas - desde essa altura que se multiplicaram operações clandestinas. Por sinal, a CIA estava longe de conseguir a melhor reputação em termos de eficiência: perdia à distância, por exemplo, para ingleses e israelitas, enquanto que, no bloco soviético, surgiam episódios lendários como o guarda-chuva assassino dos agentes búlgaros. Os amantes de histórias de espiões tiveram nas livrarias obras em que dissidentes de vários serviços contavam, com pormenor, factos comprovativos de que a realidade não estava, muitas vezes, longe da ficção que alimenta a indústria do entretenimento.
Nas últimas semanas, desabaram sobre jornais de alguns países europeus elementos informativos sobre voos contratados pela CIA, suspeitos de transportar alegados terroristas, sem o conhecimento (pelo menos admitido em público...) das autoridades dos estados sobrevoados ou utilizados em escalas. A confirmarem-se os indícios, é mais um episódio de falta de cuidados e de incompetência da CIA. Quanto aos governos dos países envolvidos, fizeram o seu papel ao solicitarem explicações a Washington, uma atitude que cai bem nos respectivos eleitorados nesta conjuntura em que a popularidade da Administração Bush está nas ruas da amargura, dentro e fora de portas.
Pela minha parte, não tenho dúvidas de que a CIA, bem como outros serviços secretos, continuarão a violar regras básicas do Direito Internacional. Quando muito, os norte-americanos terão maiores cautelas, nos tempos mais próximos, em matéria de rotas aéreas e na escolha dos «países amigos» a sobrevoar ou a fazer escala.
Muito curioso é o facto de tudo isto ter remetido para segundo plano, na agenda da maioria dos media europeus, um outro tema, bem mais embaraçoso para Washington, e que também tem a ver com a CIA. Trata-se da identificação pública de uma agente, feita com a colaboração de jornalistas, casada com um diplomata que se recusou, nas vésperas da invasão do Iraque, a adaptar a realidade às conveniências da Administração. O caso, que se aproxima perigosamente da Casa Branca, levou já à demissão de um colaborador próximo do secretário da Defesa. Neste cenário, não há dúvidas de que Washington prefere que os media se ocupem com os «voos secretos» da CIA...

sexta-feira, dezembro 02, 2005

Pague agora, segure-se depois

Até aqui (ou melhor, até, ontem) nada de grave acontecia ao segurado que, por qualquer motivo, não pagasse o seu seguro de automóvel na respectiva data de vencimento anual da apólice. Não pagava mas continuava seguro sem qualquer restrição ou reserva por mais 30 dias, findo os quais, então sim, a apólice anulava automaticamente. O Decreto-Lei n.º 122/2005 de 29 de Julho veio, porém, alterar este regime, fixando novas regras de cobrança dos recibos de seguros. Numa blogosfera de automobilistas, imagino que tenha algum interesse conhecer as principais alterações introduzidas por esta "nova lei de cobranças" a qual, desde logo, distingue entre seguros novos e seguros já em vigor numa seguradora. No caso dos seguros novos celebrados a partir de 01 de Dezembro de 2005, o princípio do "segure-se agora e depois pague" deu lugar ao princípio do "pague agora e segure-se depois". Só há seguro depois do prémio ter sido pago. Não foi uma boa notícia para os consumidores, mas creio que a mudança se fica a dever a um conjunto de pertinentes razões que ilustrarei com um só exemplo: a ninguém passará pela cabeça a quantidade de indivíduos que circulam com o famoso "certificado de seguro provisório" (válido por 30 dias) sem nunca terem pago qualquer recibo de prémio, bastando-lhes para isso andar de seguradora em seguradora a repetir tal expediente.
Já quanto aos seguros que transitam de anos anteriores, parece que o que muda, ao menos do ponto de vista do segurado, é relativamente pouco: a seguradora continuará a enviar-lhe o aviso de pagamento com 60 dias de antecedência sobre a data limite de pagamento e tal como até aqui, se até essa data limite o pagamento do recibo não tiver sido efectuado, a apólice ficará imediatamente anulada. Então o que é que mudou? Bem vistas as coisas, o que mudou foi apenas uma data, no caso, a data limite de pagamento que, por uma vez, será antecipada 30 dias e assim se manterá enquanto a apólice estiver em vigor.

quinta-feira, dezembro 01, 2005

Completaram-se ontem 70 anos sobre a morte do poeta

Sonho. Não sei quem sou neste momento.
Durmo sentido-me na hora calma
Meu pensamento esquece o pensamento
Minha alma não tem alma.

Se existo, é um erro eu saber. Se acordo
Parece que erro. Sinto que não sei.
Nada quero, nem tenho, nem recordo.
Não tenho ser nem lei.

Lapso da consciência entre ilusões,
Fantasmas me limitam e me contêm
Dorme insciente de alheios corações,
Coração de ninguém.