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sexta-feira, dezembro 09, 2005

O Concílio Vaticano II: a mudança

O Concílio Vaticano II marcou uma mudança na Igreja Católica que alguns consideram não terminada e outros dizem exagerada na sua aplicação. Na verdade, o Concílio abriu janelas mas também destapou crises latentes no catolicismo que conduz a que muitos peçam um Concílio Vaticano III na medida em que o mundo mudou.
O Papa Bento XVI assinalou ontem, com uma missa na Basílica de São Pedro, os 40 anos do encerramento do Concílio Vaticano II. Este acontecimento, que decorreu entre 1962 e 1965, reuniu os cerca de 2500 bispos de todo o mundo, agitou a vida da Igreja, relançou dinamismos de mudança que se registavam desde o início do século XX, mudou a liturgia católica, abriu a instituição a um diálogo mais profundo com outras confissões religiosas e mesmo com as sociedades. Contudo, também destacou várias crises que conduziram a que se considerasse o Concílio Vaticano II como um passo de uma revolução inacabada, como uma causa dos problemas do pós-concílio e de avanços além do que os textos propunham. Entre esses olhares, o Concílio Vaticano II ainda é objecto de polémica.
O Papa Pio XII (1939-1958) já pensara na possibilidade de convocar o Concílio Vaticano II , mas a II Guerra Mundial e a oposição da Cúria Romana travaram-lhe a ideia. Em 28 de Outubro de 1958, o conclave elegeu Angelo Roncalli, que adoptou o nome de João XXIII. Três meses depois, a 25 de Janeiro, o Papa de transição, como foi encarado, convoca um concílio para aggiornare a Igreja em relação a um mundo em mudança com uma assembleia que abre a 11 de Outubro de 1962. Para discussão havia 72 esboços propostos pela Cúria e comissões preparatórias. Os bispos participantes rejeitam-nos em bloco, refizeram-se os esquemas, reduzindo os documentos para um total de 16. A primeira sessão acaba em 8 de Dezembro sem que nenhum texto seja aprovado.
João XXIII morre em Junho seguinte, sucedendo-lhe o cardeal Giovanni Montini, de Milão, que escolhe o nome de Paulo VI. Uma das suas primeiras decisões é confirmar a continuação do Concílio para Setembro seguinte. Nesse ano e nos dois seguintes, entre Setembro e Dezembro, os bispos voltam a reunir-se em Roma, para discutir e aprovar os textos, depois de muitos e, por vezes, acalorados debates.
A assembleia, quando termina, deixa aprovadas quatro constituições, nove decretos e três declarações, títulos que dizem da extensão e importância do tema. Certo é que as declarações sobre a liberdade religiosa e sobre as religiões não-cristãs acabam por se tornar dois dos textos mais significativos. A par das constituições - sobre a liturgia, a definição da Igreja, a Bíblia e a revelação, sobre o diálogo da Igreja com o mundo - e do decreto sobre os leigos. Todos estes documentos reflectem a diversidade dos múltiplos teólogos, redactores e decisores que para eles contribuiram, sendo textos imperfeitos, soluções de compromisso que não devem por isso ser lidos como tratados de teologia, mas como resultado de consensos, no fundo, de perspectivas.
Consequências directas da aplicação dos textos ou do dinamismo criado, o concílio alterou profundamente a imagem e a experiência católica: pormenores formais como, por exemplo, o fim da missa em latim ou da pompa ligada ao Papa, que era transportado numa cadeira até à abertura renovada à participação dos leigos na vida da Igreja, culminando o trabalho de décadas da Acção Católica, uma perspectiva da Igreja que acentuou a vertente comunitária ou de "povo de Deus", o reconhecimento da autonomia das sociedades e da liberdade religiosa ou mesmo a abertura ao diálogo ecuménico e inter-religioso. Porém, várias destas questões transportaram tensões na sua aplicação que se prolongam até à nossa contemporaneidade e, por essas razões, são cada vez mais as vozes que pedem um novo concílio. É certo que o mundo mudou, colocando-se hoje na vanguarda novas questões éticas que acompanham as sociedades secularizadas. Na Igreja, o centralismo romano é ainda fonte de polémica, no ocidente não há uma renovação do clero, o estatuto dos padres está em causa, o papel das mulheres é objecto de debate crítico, a moral individual criou um fosso entre a doutrina oficial e a prática de muitos católicos.
Quarenta anos depois, um novo Papa foi eleito, com a mesma idade de João XXIII (78 anos). Se já ninguém considera Bento XVI como um Papa de transição, a expectativa em relação ao que Ratzinger pode fazer ainda não se esclareceu. A primeira encíclica do novo Papa, que deverá ser publicada em breve, pode ajudar a tirar algumas dúvidas.

2 Comments:

Anonymous Catarina said...

Obrigada pela sua visão, ajudou-me a tomar conhecimento sobre algumas questões do Concílio Vaticano II!

23:19  
Anonymous Alaor cesar de sousa said...

É importante na minha opinião que a igreja nunca esqueça dos principios religiosos pois numa mudança não se deve esquecer de pessoas que vivem estes costumes e de uma hora pra outra virara tudo como se o passado estava errado, isto não e bom pois o Cristo continua sem ter onde colocar sua cabeça com muitas mudanças o povo pode ir perdendo a fé e afastando da igreja e não repassam para os filhos.

02:19  

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