No exército só alguns, muito poucos, chegam ao posto de general. Nos bancos e nas empresas, só alguns são escolhidos para directores — e só um é presidente. Mas na função pública criou-se a ideia de que toda a gente tem de chegar, por direito natural, ao topo da carreira, faça sol ou faça chuva.
Durante anos houve uma suposta avaliação dos funcionários públicos, determinante para essa progressão. Mas quem se der ao trabalho de consultar as classificações atribuídas, ano após ano pelas chefias, verá que só existem funcionários muito bons ou excelentes. E assim, de três em três anos, lá se passava ao escalão seguinte, sempre a caminho do topo. É por esta razão que os sindicatos dizem que o novo sistema de avaliação proposto pelo Governo acaba com a progressão nas carreiras. Não acaba, mas limita-a drasticamente, como acontece em qualquer empresa privada, onde há uma percentagem muito reduzida de trabalhadores excepcionais, mais alguns bastante bons, uma esmagadora maioria que cumpre bem mas sem rasgo as suas funções e uma minoria escassa que não serve a empresa nem se sente bem nela.
Mas foi a permissividade e mentira de anos e anos de suposta avaliação dos funcionários públicos, com a cumplicidade dos sindicatos, que conduziu à necessidade de avançar para este novo modelo — que limita a 5% cerca de 35.000 funcionários, aqueles que poderão progredir nas suas carreiras em 2009 como resultado de avaliações altamente positivas. Para todos os outros funcionários públicos haverá a actualização salarial anual e a atribuição de prémios de desempenho, mas desde que haja disponibilidade financeira nos respectivos serviços.
Contudo, se o objectivo é justo, os caminhos são invíos. Na verdade, o governo tem deixado arrastar propositadamente as negociações porque, por cada ano em que as carreiras estão congeladas, poupa cerca de 400 milhões de euros, somente havendo progressão geral nas carreiras (pelo menos, é essa a nova data) a partir de 2010. É bom para o défice, mas não é sério em matéria negocial.