Alguns Pensamentos...
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quarta-feira, junho 29, 2005
sábado, junho 18, 2005
Carta aberta aos bandidos...
De acordo com relatórios do Ministério da Adminstração Interna, a criminalidade dos gangs aumentou 460% em sete anos. Creio ser seguro afirmar que nenhuma outra actividade teve, em Portugal, um sucesso que sequer se assemelhe a este. Se alguma classe social tem levado a sério o apelo patriótico do Presidente da República para fazer um esforço no sentido de dar o melhor de si ao país, é a vossa.
Não posso, no entanto, deixar de colocar fortes reservas à vossa última iniciativa. É certo que a notícia correu mundo, e é inegável que isso, juntamente com os êxitos de José Mourinho, contribui para prestigiar o nome de Portugal lá fora. Mas mobilizar 500 marmelos para assaltar uma praia é simplesmente estúpido. Com meio milhar de meliantes bem organizados, vocês podiam ter assaltado a agência sede da Caixa Geral de Depósitos e trazido o cofre - forte ao colo. Duzentos e cinquenta de cada lado e levavam aquilo em peso para casa. A assaltar uma praia parece - me óbvio que deveriam ter escolhido praias de gente rica, como as de Vilamoura. Num dia bom, talvez conseguissem palmar o helicóptero do Manuel Damásio. Já a praia de Carcavelos, meus amigos, o que é que tem para roubar? Por mais que me esforce, não consigo deixar de imaginar a vossa reunião após o arrastão como uma cena patética do tipo:
Bandido: Muito bem, vamos lá dividir o produto do roubo desta tarde. Este bronzeador solar de factor 30 fica para mim. Mãozinhas ficas com este par de raquetes. Aqui o tupperware de pataniscas de bacalhau é para o Zé Naifas. E os outros 497 dividem este tacho de arroz de tomate embrulhado em papel de jornal.
Ridículo, não vos parece? Sei que a minha opinião de leigo, provavelmente, conta pouco, mas não faria mais sentido dividirem - se em grupos de 50 (que já assustam) e assaltarem dez praias em vez de uma? É uma questão de aritmética simples. Se me permitem a observação, estou convencido de que, vocês, bandidos nacionais, são como os empresários portugueses - e digo isto sem pretender ofender - vos de modo algum. Têm iniciativa, sim senhor, mas falta - vos visão estratégica e, sobretudo, formação.
Continuação de um bom "trabalho"...
In Revista Visão, p. 160
Não posso, no entanto, deixar de colocar fortes reservas à vossa última iniciativa. É certo que a notícia correu mundo, e é inegável que isso, juntamente com os êxitos de José Mourinho, contribui para prestigiar o nome de Portugal lá fora. Mas mobilizar 500 marmelos para assaltar uma praia é simplesmente estúpido. Com meio milhar de meliantes bem organizados, vocês podiam ter assaltado a agência sede da Caixa Geral de Depósitos e trazido o cofre - forte ao colo. Duzentos e cinquenta de cada lado e levavam aquilo em peso para casa. A assaltar uma praia parece - me óbvio que deveriam ter escolhido praias de gente rica, como as de Vilamoura. Num dia bom, talvez conseguissem palmar o helicóptero do Manuel Damásio. Já a praia de Carcavelos, meus amigos, o que é que tem para roubar? Por mais que me esforce, não consigo deixar de imaginar a vossa reunião após o arrastão como uma cena patética do tipo:
Bandido: Muito bem, vamos lá dividir o produto do roubo desta tarde. Este bronzeador solar de factor 30 fica para mim. Mãozinhas ficas com este par de raquetes. Aqui o tupperware de pataniscas de bacalhau é para o Zé Naifas. E os outros 497 dividem este tacho de arroz de tomate embrulhado em papel de jornal.
Ridículo, não vos parece? Sei que a minha opinião de leigo, provavelmente, conta pouco, mas não faria mais sentido dividirem - se em grupos de 50 (que já assustam) e assaltarem dez praias em vez de uma? É uma questão de aritmética simples. Se me permitem a observação, estou convencido de que, vocês, bandidos nacionais, são como os empresários portugueses - e digo isto sem pretender ofender - vos de modo algum. Têm iniciativa, sim senhor, mas falta - vos visão estratégica e, sobretudo, formação.
Continuação de um bom "trabalho"...
In Revista Visão, p. 160
quinta-feira, junho 16, 2005
segunda-feira, junho 13, 2005
Eugénio de Andrade e Álvaro Cunhal
" É todo um mundo confuso".
Com esta frase começava "Os Amantes sem Dinheiro" de Eugénio de Andrade, um dos grandes poetas portugueses e talvez, sem querer cometer nenhuma heresia ou sacrilégio - desculpem - me, entre outros, os defensores de Fernando Pessoa - o maior poeta português.
Eugénio de Andrade seguiu ao longo da sua vida poética três grandes linhas orientadoras que se consubstanciavam no Homem, na terra e na palavra, essências de todo o seu percurso poético.
O seu desaparecimento, aos 82 anos de idade, constitui uma perda enorme para a língua portuguesa e para a cultura nacional pois poucos foram aqueles com o seu talento, a sua genialidade e sensibilidade.
Quis o destino que o dia do seu desaparecimento coincidisse com o da morte de Álvaro Cunhal, este com 91 anos. Goste - se ou não da figura, comunista ou não, ninguém pode ficar indiferente a um ícone histórico português e à sua contribuição para a introdução e consolidação da democracia no nosso país. Cunhal marcou um Portugal político, um Portugal cultural, um Portugal social. Defendeu sempre as suas ideias e princípios com uma acérrima vontade e concordando - se ou não com as mesmas ou com as suas aplicações, essa natureza de esforço, dedicação, devoção é algo que deve ser transmitido às gerações futuras. À sua maneira, sem dúvida, suis generis, mesmo sendo ultrapassado pelas mutações sociais da Perestroika e por um sentido renovador do comunismo, também ele tentou tornar este mundo menos confuso... tal como Eugénio de Andrade.
Com esta frase começava "Os Amantes sem Dinheiro" de Eugénio de Andrade, um dos grandes poetas portugueses e talvez, sem querer cometer nenhuma heresia ou sacrilégio - desculpem - me, entre outros, os defensores de Fernando Pessoa - o maior poeta português.
Eugénio de Andrade seguiu ao longo da sua vida poética três grandes linhas orientadoras que se consubstanciavam no Homem, na terra e na palavra, essências de todo o seu percurso poético.
O seu desaparecimento, aos 82 anos de idade, constitui uma perda enorme para a língua portuguesa e para a cultura nacional pois poucos foram aqueles com o seu talento, a sua genialidade e sensibilidade.
Quis o destino que o dia do seu desaparecimento coincidisse com o da morte de Álvaro Cunhal, este com 91 anos. Goste - se ou não da figura, comunista ou não, ninguém pode ficar indiferente a um ícone histórico português e à sua contribuição para a introdução e consolidação da democracia no nosso país. Cunhal marcou um Portugal político, um Portugal cultural, um Portugal social. Defendeu sempre as suas ideias e princípios com uma acérrima vontade e concordando - se ou não com as mesmas ou com as suas aplicações, essa natureza de esforço, dedicação, devoção é algo que deve ser transmitido às gerações futuras. À sua maneira, sem dúvida, suis generis, mesmo sendo ultrapassado pelas mutações sociais da Perestroika e por um sentido renovador do comunismo, também ele tentou tornar este mundo menos confuso... tal como Eugénio de Andrade.
sábado, junho 11, 2005
O Arrastão
As imagens que percorreram os vários veículos de comunicação social pareciam transportar - nos numa viagem para um terceiro mundismo assustador: um arrastão humano tipicamente associado a terras brasileiras assolou um Portugal desprevenido, pouco ou nada preparado para lidar com tal acontecimento. Centenas de jovens, vindos das áreas suburbanas de Lisboa, organizados em gangs, concentraram - se na praia que, na data, deveria ser a mais povoada da zona da capital, varrendo autenticamente o local.
Numa visão simplista e redutora correm comentários preocupantes na nossa sociedade contemporânea, plural, que fazem deste arrastão uma questão racial. Sem dúvida que a capa é sedutora num problema que, assim seria, dir - se - ia, facilmente detectado e eliminado da nossa sociedade. Contudo, a questão é, tal como a realidade, muito mais complexa em que mais do que a prevenção ou intervenção de reacção, a questão que é muito mais social do que racial, clama por uma acção activa e construtiva nos meios urbanos mais problemáticos. Aí, o investimento não se tem realizado, alargando - se o fosso entre ricos e pobres sendo cada vez mais diminuta a classe média que, no fundo, é uma pedra angular no equilíbrio da nossa sociedade.
O combate à criminalidade não pode ser meramente transformado num aumento das forças policiais, reduzido a questões e a medidas simplistas aplicadas principalmente nas grandes zonas urbanas que aumentaram consideravelmente a sua população nas últimas décadas vendo dimunir a sua condição e qualidade de vida. O desenvolvimento social que comporta múltiplos domínios nada fáceis de articular necessita de medidas urgentes que apresentem soluções viáveis para um problema concreto.
Por conveniência ou ignorância, esta é uma matéria há muito ausente dos discursos e planos eleitorais dos nossos políticos quase sempre e cada vez mais desacreditados. É necessário debater com seriedade este tema complexo para que não se atilhe um rastilho que será difícil de extinguir. A indiferença à diferença numa Europa multicultural agrava o seu potencial de desenvolvimento e de estabilidade. Portugal necessita de reequacionar as suas estratégias sociais de modo a tornar o fenómeno multicultural inclusivo e não exclusivo.
Numa visão simplista e redutora correm comentários preocupantes na nossa sociedade contemporânea, plural, que fazem deste arrastão uma questão racial. Sem dúvida que a capa é sedutora num problema que, assim seria, dir - se - ia, facilmente detectado e eliminado da nossa sociedade. Contudo, a questão é, tal como a realidade, muito mais complexa em que mais do que a prevenção ou intervenção de reacção, a questão que é muito mais social do que racial, clama por uma acção activa e construtiva nos meios urbanos mais problemáticos. Aí, o investimento não se tem realizado, alargando - se o fosso entre ricos e pobres sendo cada vez mais diminuta a classe média que, no fundo, é uma pedra angular no equilíbrio da nossa sociedade.
O combate à criminalidade não pode ser meramente transformado num aumento das forças policiais, reduzido a questões e a medidas simplistas aplicadas principalmente nas grandes zonas urbanas que aumentaram consideravelmente a sua população nas últimas décadas vendo dimunir a sua condição e qualidade de vida. O desenvolvimento social que comporta múltiplos domínios nada fáceis de articular necessita de medidas urgentes que apresentem soluções viáveis para um problema concreto.
Por conveniência ou ignorância, esta é uma matéria há muito ausente dos discursos e planos eleitorais dos nossos políticos quase sempre e cada vez mais desacreditados. É necessário debater com seriedade este tema complexo para que não se atilhe um rastilho que será difícil de extinguir. A indiferença à diferença numa Europa multicultural agrava o seu potencial de desenvolvimento e de estabilidade. Portugal necessita de reequacionar as suas estratégias sociais de modo a tornar o fenómeno multicultural inclusivo e não exclusivo.