Alguns Pensamentos...

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sábado, junho 11, 2005

O Arrastão

As imagens que percorreram os vários veículos de comunicação social pareciam transportar - nos numa viagem para um terceiro mundismo assustador: um arrastão humano tipicamente associado a terras brasileiras assolou um Portugal desprevenido, pouco ou nada preparado para lidar com tal acontecimento. Centenas de jovens, vindos das áreas suburbanas de Lisboa, organizados em gangs, concentraram - se na praia que, na data, deveria ser a mais povoada da zona da capital, varrendo autenticamente o local.
Numa visão simplista e redutora correm comentários preocupantes na nossa sociedade contemporânea, plural, que fazem deste arrastão uma questão racial. Sem dúvida que a capa é sedutora num problema que, assim seria, dir - se - ia, facilmente detectado e eliminado da nossa sociedade. Contudo, a questão é, tal como a realidade, muito mais complexa em que mais do que a prevenção ou intervenção de reacção, a questão que é muito mais social do que racial, clama por uma acção activa e construtiva nos meios urbanos mais problemáticos. Aí, o investimento não se tem realizado, alargando - se o fosso entre ricos e pobres sendo cada vez mais diminuta a classe média que, no fundo, é uma pedra angular no equilíbrio da nossa sociedade.
O combate à criminalidade não pode ser meramente transformado num aumento das forças policiais, reduzido a questões e a medidas simplistas aplicadas principalmente nas grandes zonas urbanas que aumentaram consideravelmente a sua população nas últimas décadas vendo dimunir a sua condição e qualidade de vida. O desenvolvimento social que comporta múltiplos domínios nada fáceis de articular necessita de medidas urgentes que apresentem soluções viáveis para um problema concreto.
Por conveniência ou ignorância, esta é uma matéria há muito ausente dos discursos e planos eleitorais dos nossos políticos quase sempre e cada vez mais desacreditados. É necessário debater com seriedade este tema complexo para que não se atilhe um rastilho que será difícil de extinguir. A indiferença à diferença numa Europa multicultural agrava o seu potencial de desenvolvimento e de estabilidade. Portugal necessita de reequacionar as suas estratégias sociais de modo a tornar o fenómeno multicultural inclusivo e não exclusivo.