Alguns Pensamentos...

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quarta-feira, julho 25, 2007

Rainha por uma hora ou duquesa toda a vida?

José Saramago, único Prémio Nobel português de Literatura, lá veio esclarecer o ignaro povo sobre o que ganharíamos em nos tornarmos uma província espanhola. Esta obsessão de pessoas com responsabilidades políticas, sociais ou culturais em nos integrarmos em Espanha não é nova: atravessou toda a nossa História e foi defendida por parte das sucessivas elites do país. Infelizmente para elas, e exceptuando um período entre 1580 e 1640, o prato da balança pende desde 1143 para os que não querem esse destino e que estão a ganhar por 824 anos contra 60... Mesmo assim, Saramago acha que só ganharíamos se trocássemos a independência mais antiga da Europa pelas benesses que resultariam de Madrid tomar conta de nós, deixando-nos, claro, continuar a falar e escrever em português — e mudando o nome de Espanha para Ibéria.
O autor de Ensaio sobre a Cegueira não vê o que se passa com as autonomias espanholas. E já esqueceu que é melhor ser rainha uma hora que duquesa toda a vida.

segunda-feira, julho 23, 2007

Aqui e acolá

Continuarei a estar por aqui, mas agora também estarei acolá.

quarta-feira, julho 18, 2007

Equilíbrio e equilibrismo

«...Esse homem está sempre com medo de comprometer-se, de ir demasiado longe; o menor excesso fá-lo tremer; não tem outro cuidado senão o de conservar em todas as coisas o justo meio termo.
Será isto equilíbrio? De maneira nenhuma: isto é equilibrismo! O homem equilibrado reúne e harmoniza em si as tendências opostas (a vontade e a paixão, a prudência e a audácia, a lucidez e o entusiasmo); é como uma montanha cujo equilíbrio implica a existência de duas vertentes. E essa amplitude de base permite-lhe precisamente, como a montanha cujo cimo se perde audaciosamente no céu, comprometer-se a fundo, desprezar as meias tintas e as precauções; pode ir muito longe e muito alto sem perigo para a sua base interior; é bastante forte e rico para ser saudavelmente excessivo.
O equilibrista, pelo contrário, está separado da vida e toda a sua habilidade consiste em manobrar sabiamente para ficar de pé no meio do torvelinho das forças adversas que o agitam e que ele não pode dominar.
O primeiro evita a queda quando aderindo plenamente à vida; o segundo, mantendo-se alheio a tudo.
Os dois escapam às correntes perigosas: um porque comunga com a fonte mesma do rio; o outro... porque sabe manobrar o seu barco
THIBON, Gustave
O pão de cada dia

terça-feira, julho 10, 2007

Quase nórdicos e a caminho da China

As recomendações da Comissão do Livro Branco das Relações Laborais aproximam-nos dos países nórdicos – mas indicam-nos que vamos a caminho da China. Explico-me.
Há um conjunto de medidas propostas que, chame-lhe o ministro adaptabilidade ou flexigurança, decalcam, com maior ou menor detalhe, o modelo que regula actualmente as relações laborais, em países como a Suécia, Noruega ou Dinamarca - e que Bruxelas paternalmente aconselha a todos os Estados membros. Nós, como alunos aplicados, propomo-nos seguir os bons exemplos, dando de barato, claro, que não temos a rede de protecção social que existe naqueles países nórdicos.
Quanto às principais mudanças propostas, várias delas fazem sentido para responder aos desafios da globalização, mas no essencial o caminho é o de diminuir os direitos dos trabalhadores conquistados nos últimos 30 anos. De que outro modo podem ser considerados a maior flexibilidade do despedimento individual (diminuição substancial do prazo para a interposição da acção de impugnação do despedimento, alargamento do âmbito do despedimento por inadaptação, aumento dos obstáculos à reintegração do trabalhador mesmo quando ganhe o processo de despedimento), a perda de salário por fundamentos objectivos, o corte no subsídio de férias (ao ser expurgado de tudo o que não seja salário base), a redução do limite mínimo de descanso de uma hora para meia hora, após cada cinco horas de trabalho, a diminuição dos dias de férias… e por aí fora.
E a grande questão a que não se responde é se todas estas mudanças garantem maior crescimento e competitividade à economia portuguesa? Aliás, Portugal cresceu a taxas claramente acima da média europeia entre 1986 e 2000, com estas mesmas leis e com estes mesmos trabalhadores, muito por força de uma relação dos termos de troca que nos foi extremamente favorável, com a queda dos preços do petróleo e das matérias-primas, e com o aumento das exportações resultante de uma conjuntura europeia particularmente favorável.
Os portugueses são dos europeus que mais horas passam nos seus postos de trabalho. Não é por isso que a riqueza do país aumenta, residindo grande parte dos problemas na péssima organização da economia e da sociedade e na falta de lideranças competentes e motivadoras. É claro que, do lado dos trabalhadores, falta sobretudo formação. Mas não é cortando cada vez mais os seus direitos que eles serão motivados a trabalhar mais e melhor.
Este pacote de leis agora apresentado parece-me que é somente a ponta do iceberg, porque não terá os resultados esperados. Um dia destes, mais ano menos ano, algum Governo pensará que bom mesmo é termos as mesmas leis laborais que existem na China - isto é, quase nenhumas. Nessa altura, vamos crescer 10% ao ano ou mais - ou não.
Subsistirá, contudo, sempre um problema. É que nós não somos chineses. Somos portugueses, gostamos de ter horas para almoçar e comer pastéis de nata. É uma desvantagem brutal...