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quarta-feira, fevereiro 15, 2006

O património edificado e a autenticidade da memória

Numa época em que as constantes transformações da sociedade ameaçam o desaparecimento das referências que garantem a entidade cultural de uma civilização, suscitam-se perplexidades e dúvidas quanto à forma de actuar sobre a nossa herança cultural. Se analisarmos a essência da nossa existência é, sem dúvida, a memória que prolonga irreversivelmente o passado no presente.
A existência do património, por força da sua própria essência matérica e funcional, reflecte o espírito da criação do autor, a partir do momento em que inicia o seu percurso. O acto de intervir em defesa desse mesmo património, implica um somatório de inúmeros esforços para reponder às exigências que o mundo moderno nos impõe, e, sobretudo, não pode degenerar numa evolução que, partindo de uma ideia humanista, acabe por redundar em fundamentalismo, mesmo com base na intenção de preservar cada identidade cultural. Em todo o caso, e em virtude desta mudança, as reflexões que vêm sendo produzidas, parecem consolidar o princípio de que a salvaguarda de valores patrimoniais a uma escala planetária assenta no reconhecimento do relativismo cultural.
Com a elaboração da Carta de Nara, adivinha-se a vontade de organizar uma escala de verificação de atributos para reflectir a propósito das finalidades de autenticidade do património construído. No entanto, a aplicabilidade de um conjunto de critérios técnicos e organizativos não deveriam deixar de ser confrontados com os testemunhos actuais das histórias das cidades que são marcados por sucessivas (re)interpretações.
A reabilitação do património deve concentrar-se nos elementos do presente, não perdendo a postura ajustada do dever de salvaguardar a memória comum. Na verdade, da interacção entre responsabilidade e liberdade resulta a ajustada actuação.