Alguns Pensamentos...

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sexta-feira, fevereiro 03, 2006

Notas sobre a burocracia...

Actualmente não se imagina um Estado ou uma administração sem burocracia. Esta constitui um dos melhores meios de adiamento e paralisação de qualquer acção, assemelhando-se a uma espécie de solução de compromisso: por um lado, a burocracia adia os processos que procuram solução num tempo que pode alargar-se tanto que as datas - limite caducam e a acção jamais terá lugar, por outro lado, enquanto dura o processo, perpetuado por gestos burocráticos, tem-se a sensação (utópica) de se poder chegar a uma solução final. Daí que as chamadas listas de espera nos dêem esta sensação de um compromisso legítimo e de uma réstia de esperança que se pode prolongar por muitos e bons anos. Na verdade, muitos foram aqueles que tiveram de esperar anos ou meses para serem operados ou os que viram as suas vidas transformadas pelas demoras da administração, dos serviços do Estado em múltiplos domínios.
Mas, apesar do funcionamento da nossa burocracia não ser o ideal, ela faz parte da nossa vivência, parecendo surgir como uma via que permite simultaneamente exprimir indirectamente a violência conflitual, impedindo - a de se exercer literalmente ou fisicamente (somos um povo pacífico e tolerante), representando uma espécie de sintoma social da recusa do conflito e da acção.
Esta inércia parece exigir , como num ciclo vicioso, uma compensação pela máquina burocrática, em que a burocracia é associada ao frenesim de tudo regimentar sob algumas frases justificativas do tipo «só assim se mudará o país», classificado de «república das bananas», onde tudo é permitido. Daí a necessidade maníaca de registar o menor desvio, a mínima falta em vários sectores da nossa sociedade, pensando que é assim que se avança rumo a uma cidadania perfeita.