A «siesta»
À decisão do Governo espanhol em acabar com a tradicional «siesta» apressaram-se muitos a reagir enaltecendo as virtudes de mais uma acha para a fogueira da produtividade.
Na verdade, mesmo com a «siesta», a Espanha tem elevados índices de produtividade e o que (oficialmente) justifica a extinção desse período alargado para o almoço de que gozam os espanhóis é o objectivo de conciliar família e trabalho e não propriamente a procura incessante por uma maior produção.
Para aqueles que acham que a salvação do mundo será tanto mais certa quantas mais horas se trabalhar, esquecem que detrás de cada trabalhador está uma pessoa e que esta será tanto mais válida, logo, produtiva quanto mais «liberdade» tiver para se equilibrar interiormente, com o que isso implica de disponibilidade para estar com a família no final de um dia de trabalho. Para muitos, iniciou-se uma revolução cultural não propriamente por se acabar com a «siesta» mas, sobretudo, por se decretar que há mais vida para além do trabalho.
A obsessão compulsiva pelos resultados acabará por enterrar toda a sombra de vida civilizada. De que vale sermos mais produtivos se nos tornamos, seguramente, menos humanos?
3 Comments:
A siesta dizem alguns, faz aumentar a produtividade.
Trabalhei durante 3 meses e meio nas Canárias, e nesse tempo, habituei-me à siesta.
Tornava-me mais produtivo. Aqui nos Açores, o clima não é propício a este tipo de interrupção.
Desambientado,
Tens toda a razão. Nem todos os locais do território português serviam para a implantação da sesta no sentido literal da palavra. Contudo, se pensarmos a sesta como um momento de disponibilidade para estar com família ou amigos, que nos equilibram interiormente, logo, tornando-nos mais produtivos, ela podia ser implementada em qualquer lugar do mundo independentemente do clima.
Claro que sim. Certamente traria mais valias em termos da sedimentação de valores familiares.
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