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sexta-feira, setembro 09, 2005

O amor segundo Kierkegaard

A assinalar os 150 anos da morte do filósofo dinamarquês Kierkegaard (1813 - 1855), saiu recentemente uma nova edição de In Vino Veritas. Trata-se da primeira das três partes da obra Estádios no caminho da vida, uma espécie de teatro filosófico em que Kierkegaard dá voz a várias personagens, com o objectivo de encenar os diferentes modos de existência correspondentes às três etapas da vida: o estádio estético, o ético e o religioso.
Kierkegaard assinou cada uma dessas partes com pseudónimos diferentes, constatando-se uma importância da experimentação e da multiplicidade enquanto constitutivas do acto de pensar, verificando-se assim que dentro de um mesmo estádio, as possibilidades são múltiplas. De tal modo que, no final de um banquete em que se discutem impressões acerca do amor e da mulher, parece não haver síntese possível. De facto, Kierkeggard parece reenviar-nos para esta mesma ideia quando fala do amor. O amor é risível, se pensarmos que todos o procuram sem que nunca se chegue a explicitar o que o suscita, é uma experiência cómica, mas também uma experiência trágica.
Ao pôr em cena cinco personagens com diversas visões da experiência do amor e da figura da mulher, Kiekegaard parece sugerir que não subscreve inteiramente nenhum dos discursos. Porém, resta saber se, salvaguardar-se por detrás de uma série de máscaras não foi a solução que o filósofo dinamarquês encontrou para endereçar uma carta aberta.
A figura de Kierkegaard é, neste livro, de um ausente sempre presente. Ele não se encontra no mesmo estádio em que ainda vivem as suas personagens, transmitindo a ideia de que o amor é algo de que se guarda uma recordação, pois o recordar é algo poético e tem um carácter eterno.