Alguns Pensamentos...

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terça-feira, setembro 13, 2005

Arthur Koestler


Parece que Arthur Koestler (1905 - 1983) nasceu há cem anos. Digo "parece" porque, a julgar pelo jornalismo "cultural" que nos servem, Koestler praticamente não existiu. Foi uma figura apagada quando, ao invés, foi incontornável como jornalista, escritor, político activista e filósofo. Bem sei que, nos últimos anos da sua vida (faleceu em 1983), Koestler entregou-se a meditações científicas e mesmo para-científicas que não entusiasmaram um grande público.
Mas a sua obra-prima Darkeness at Noon deixou pouca gente indiferente. Publicado corajosamente em 1940, este livro é um notável documento sobre o terror estalinista que , na década de 30, começou a vitimar um grande número de pessoas.
Relembro agora: a história de Rubashov, um antigo líder do Partido que, embora sem nunca renunciar à alegada nobreza da utopia (um pormenor geralmente ignorado pelas brigadas à direita), comete o crime - moral, gramatical - de começar a pensar na primeira pessoa. Esta sua afirmação torna-se o princípio da sua desgraça.
Para alguns críticos, Koestler não se limitou a escrever um impressivo romance, ajustando contas com o seu próprio afastamento partidário que, aliás, se tornou irreversível com o pacto germano - soviético. Koestler inaugurou, ou melhor, precipitou através dos seus escritos a chamada Guerra Fria. Como se lê e relê em duas das passagens mais notáveis do livro (os confrontos com Ivanov, seu colega de geração e inquisidor no cárcere e com Gletkin, que acabará por ser o seu carrasco), Koestler oferece uma preciosa visão sobre a cabeça totalitária que é preenchida (ou não) por uma total ausência de crítica e de autocrítica e pela crença irracional na legitimidade dos meios para a prossecução infalível dos fins.
Na verdade, este é um clássico a não perder na nossa contemporaneidade.