Alguns Pensamentos...

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terça-feira, abril 18, 2006

Uma questão de honra

«Uma questão de honra» foi a tradução encontrada para o título original do filme de Rob Reiner «A few good men» (qualquer coisa como, traduzido literalmente, «poucos, mas bons»).
Fosse a versão original ou a da tradução livre, qualquer delas podia intitular o facto que marcou a semana política: a ausência de mais de 50% dos deputados da Assembleia da República na última quarta-feira, impossibilitando, por indisfarçável falta de quórum, a votação semanal dos projectos e propostas-de-lei. Os poucos, mas quer acreditar-se que bons, parlamentares que resistiram à debandada antecipada para o fim-de-semana prolongado não chegaram para fazer cumprir o regular funcionamento da instituição tendo como consequência a lógica indignação da generalidade do cidadão comum.
Cavaco Silva - num gesto que se crê ir além do mero reflexo pavloviano expectável de quem é, precisamente, o garante do tal funcionamento regular do sistema - mostrou-se preocupado com o sucedido e fez passar a mensagem de que se referirá ao incidente, a coberto do tema da «qualidade da democracia», na sua intervenção no dia 25 de Abril.
Não há terreno mais fértil para o discurso, muitas vezes injusto e demagógico, contra a política e os políticos, do que a Assembleia da República: o que trabalham os deputados, mas sobretudo o que ganham proporcionalmente ao que trabalham; os privilégios de que gozam, a par das faltas que dão, ou melhor, da falta que pelos vistos julgam não fazer; por fim, as razões, normalmente proporcionais à ligeireza com que cada potencial candidato se movimenta nos corredores dos vários aparelhos partidários, porque são aqueles e não outros os escolhidos para integrarem a elite (os tais «few») dos que podem mudar as coisas. Serem os próprios eleitos a contribuírem, e de modo tão generalizado (as ausências somaram 119), para mais uma machadada na já frágil imagem do Parlamento junto dos eleitores não é grave, é quase imperdoável.
Que a democracia não é perfeita, já todos sabemos e que ainda não se encontrou melhor, também. Mas o mínimo exigível, por respeito à democracia e aos cidadãos que querem acreditar nela - mesmo que seja apenas porque não conhecem alternativa - , é que o comportamento dos homens que temporariamente ocupam as funções de deputado esteja à altura da dignidade do lugar. É o mínimo dos mínimos...