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quinta-feira, fevereiro 23, 2006

A importância da pluralidade

Michelle Bachelet é a nova Presidente do Chile, a primeira mulher no seu país a ascender a tal cargo, mas não na América Latina.
Antes dela, outras três foram chefes de Estado por via eleitoral: Violeta Chamorro na Nicarágua (1990-1996), Mireya Moscoso no Panamá (1999-2004) e Janet Jagan, na Guiana (1997-1999). E outras três o foram também, se bem que não pela força do voto: Isabel Peron, na Argentina (1974-76), depois da morte do marido; Lídia Gueiler, na Bolívia, nomeada pelo Congresso por um período interino (1980) e ainda Rosalia Arteaga, no Equador, por escassos seis dias (Fevereiro de 1997), depois do derrube de Bucaram Ortiz, de quem era vice-presidente. Em Abril próximo, uma outra mulher apresentar-se-á às urnas, no Peru, Lourdes Flores.
A eleição de Bachelet não é, portanto, uma questão de excepção. O que ela tem diferente das que a antecederam no cargo é que Bachelet é socialista, militante do mesmo partido a que pertencia Salvador Allende - e além disso ateia, divorciada, com filhos de pais diferentes e não casada, com um passado de torturada e exilada, tudo «pecados capitais», como ela própria disse, o que não a impediu de ser eleita, por uma ampla maioria de votos (53,5%), num país que era considerado um dos mais conservadores da América Latina.
Depois de Evo Morales, o índio boliviano eleito no final, Bachelet inaugura as inúmeras eleições presidenciais (13) que se prevêem para este ano na região.
A vitória aponta para a esquerda, mas as tonalidades são muitas. Morales e Bachelet são duas delas. Se esta se pode reivindicar de uma esquerda de matriz europeia, mesmo social-democrata (e a Internacional Socialista investiu a fundo na sua eleição), Morales é o oposto. Índio, ex-dirigente sindical, representa antes de mais os pobres e oprimidos, os «descamisados», que reivindica a herança de Bolivar, o libertador da América Latina. Há dias, Bastenier no «El Pais» chamava-lhe a «esquerda pré - colombiana» e interrogava-se sobre se ele anunciaria a «vingança etnicista 500 anos depois».
Os seus aliados Hugo Chavez (Venezuela) e Fidel Castro, em Cuba, pouco têm a ver com ele sob esse ponto de vista. O primeiro faz parte de outra cultura e a sua aproximação ao poder fez-se primeiro pela via do golpe militar. O patriarca Fidel é um revolucionário de origem marxista. Além disso, ainda há o brasileiro Lula e o uruguaio Vasquez Tabaré, hoje mais próximos da social-democracia. E ainda Kirchner, da Argentina, um caso de populismo que vai buscar raízes no peronismo. Como sempre, a esquerda tem muitas nuances.